CARTOLA DE FUMO
Baseada em encontros gravados individualmente com um mágico, uma arquivista, um padre e um matemático, em torno das noções de aparecimento e desaparecimento, "Cartola de Fumo" é uma peça sonora que articula formas de lidar com o “inexplicável”, entre o truque e o milagre.
Através de um estado alucinatório que fala de uma paisagem exterior, mas também de uma paisagem psicológica, a peça presta atenção tanto ao conteúdo de determinada enunciação, como à forma como se enuncia. Esta abordagem é concretizada através de três pontos de vista: o do crente, o do cientista e o daquele que não acredita.
A peça foi comissariada pela Anozero – Bienal de Arte Contemporânea de Coimbra e inaugurada no Convento de Santa Clara-a-Nova, sobre o altar de uma capela devoluta, com a curadoria de Filipa Oliveira e Elfi Turpin, em Abril de 2022.
Um agradecimento especial a Ana Margarida Silva, Carlos Antunes, Elfi Turpin, Filipa Oliveira, Helena Freitas, Jorge Vilas, José Miguel Pereira, José Miguel Urbano, Luís de Matos, Pe. Nuno Santos, Nuno Grande, Estúdio 33 e Associação de Moradores da Relvinha.
Cartola de Fumo [Smoke Hat], 2022
Som estéreo transferido para disco de vinil, 5’56”
Gira-discos e altifalantes sobre altar
Língua: PT
A ideia é:
Com base nesse acordo prévio, eu vou mostrar coisas impossíveis e a pessoa vai-se emocionar em função disso.
Imaginem um cubo de gelo a derreter dentro de um copo de água.
Cubo de gelo, copo de água.
Há uma fronteira, que separa o gelo da água, que vai evoluindo com o tempo.
Fronteira, tempo.
O que é que se passa nesta fronteira?
Como é que se comporta?
Que propriedades é que tem?
Apareceu… that’s it ou desapareceu… that’s it.
[riso]
Quem não distingue, confunde. Distinguir não é separar.
O que é profundo é altamente complexo.
E tendencialmente incompreensível.
Distinguir, separar.
Profundo, complexo.
Incompreensível.
Ok. Nós fazemos isso há cem anos.
É literalmente um teletransporte.
Instantâneo. Untraceable. Impossível de descobrir!
A História não está no preto e no branco.
Todos estão certos.
[riso]
Ele quer mostrar uma realidade, exatamente para não esconder.
[riso]
Como é que se esconde algo que é perene?
[riso]
Isto é outro mundo. Isto é chegar lá em cima…
O que nós gostamos mesmo é das coisas abstratas.
As coisas estão lá e nós estamos apenas a tentar perceber a verdade.
O momento mais intenso é o lugar onde Deus desce.
Quando a pessoa sente que aquilo encaixou, não há nada a fazer.
É aquilo.
Por exemplo, se tiver um monte de areia, aquilo é muito estável se o ângulo for superior a 45 graus, mas quando o ângulo passa abaixo dos 45 graus, a coisa precipita-se.
[riso]
Não podemos demonstrar uma negativa.
Era às nove da noite, ele entrou às 10, estalou os dedos e disse:
— “Olhem para os vosso relógios!”
E os relógios de todas as pessoas afinal estavam nas nove…
Como é que se esconde algo que é perene?
Eu aceito ser comido por ti.
Posso não me alimentar, mas sei que há alimento.
Imaginem dois globos oculares:
Tirávamos e esperávamos que eles comunicassem qualquer tipo de emoção. Zero!
Há várias salas,
há várias portas,
há vários eus,
no engano!
Imagens por Jorge das Neves
Cortesia Anozero - Bienal de Arte Contemporânea de Coimbra